João Alberto é mesmo apenas 90% honesto? | Blog do Louremar

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

João Alberto é mesmo apenas 90% honesto?

Trago hoje um assunto para os leitores, por achar polêmico e de cunho histórico.Trata-se da polêmica afirmação do senador João Alberto de Souza, sobre o período em que esteve como governador do Maranhão. Ele teria dito que fez um governo 90% honesto ou teria dito que ele é 90% honesto?

O tema voltou à baila na semana passada, depois que João Alberto passou a ser cotado para assumir a Corregedoria do Senado. A Corregedoria é responsável por apurar irregularidades cometidas por membros do Senado e funcionários. Na biografia de João Alberto, 75 anos, natural de São Vicente Férrer, consta o fato de ter feito tal afirmação.

A frase, dita em 1991, pode ter sido decisiva na campanha eleitoral de 1992, quando disputou a prefeitura de São Luis com a candidata Conceição Andrade. Nos outdoors, lia-se: “Quem é 90% honesto é 100% desonesto”.

Trago para os leitores o relato feito pela pessoa que entrevistou João Alberto, o jornalista Walter Rodrigues, um dos maiores jornalistas do Brasil, mestre para muitos. Walter Rodrigues escreveu o Colunão, durante um bom tempo encartado no Jornal Pequeno. Nos novos tempos, com o advento da Internet, passou a publicar na web seus excelentes textos. O arquivo ainda se encontra disponível no endereço http://www.walter-rodrigues.jor.br/

Mas vamos aos fatos, contados pelas palavras de Walter Rodrigues, em um artigo intitulado 90% de franqueza.

"Fazia seis meses que João Alberto tinha passado o comando do Estado a Edison Lobão, após governá-lo por animados onze meses, quando o entrevistei numa sala do Banco do Estado do Maranhão, numa terça-feira. Inaugurada seis semanas antes, minha coluna nO Imparcial já sofria as primeiras pressões, apesar do estilo moderado que eu me impusera. Acabaria censurada na edição de 26/4/1992, nunca soube exatamente por quem. Suprimiram uma carta do ex-deputado Freitas Diniz contra o senador José Sarney. Fui embora tranqüilamente, antes que virasse moda.

Dei à entrevista um título discreto, “João Alberto no ataque”, tanto para evitar que a direção do jornal se inquietasse ainda mais, quanto para impedir que a “confissão” sensacional condenasse à sombra outras passagens relevantes. Já o editor José de Ribamar Gomes, o experiente Gojoba, meu aliado secreto naqueles tempos, fez o que lhe cabia: destacou os 90% na chamadinha de primeira página.

Carcará desabusado –– Poucas vezes em qualquer parte do mundo um governador ou ex-governador manifestou-se com tanta franqueza (não com toda a franqueza, certamente). Confirmada, aliás, em pelo menos dois outros episódios. Meses antes da fala dos 90%, numa entrevista que nunca teve a repercussão merecida, sabe-se lá por quê, João Alberto assumira “oficialmente” o apelido de Carcará, a águia sertaneja que “pega, mata e come”, no dizer do poeta João do Vale. Aludia aos feitos da Operação Tigre, a famosa campanha de extermínio de marginais desencadeada no governo dele. Com a participação de policiais honestos, com certeza, mas também de lombrosianos que se aproveitaram do virtual “estado de sítio” no interior para saquear e violentar pessoas inocentes.

Outra frase de grande repercussão saíra-lhe da boca em 1981, ao constatar que 80% dos prefeitos maranhenses “são corruptos”. Em 1997, pouco após o assassinato do delegado Stênio Mendonça, declarou também que o crime organizado deitava raízes “na elite dos três poderes”, acrescentando dias depois, com a mais absoluta razão, que somente os hipócritas seriam capazes de contestá-lo.


Deputados –– João Alberto governou com minoria na Assembléia, que por duas vezes tentou impedi-lo de exercer o Governo. Diz que fez o possível para agradar às bancadas do PFL e PDC, ‘até mesmo algumas indignidades’, de que se arrepende. Entre elas, uma dispensa de concorrência pública que atendia aos interesses do deputado Carlos Braide, presidente da casa. ‘Mas eles não se conformavam com pouco. Queriam continuar saqueando o Estado. O Ricardo Murad, por exemplo, pretendia que eu assinasse um aditivo contrário ao interesse público e absolutamente injustificável. Ninguém imagina as pressões que sofri. Fiz um governo 90% honesto, não me beneficiei pessoalmente, embora tenha beneficiado alguns. E usei a máquina em favor dos interesses políticos de muitos. O que não fiz foi aceitar o estupro que eles queriam me impor”.

O sentido é claro. João Alberto confessava o cometimento de “indignidades”, mas reivindicava o galardão de mais haver negado que concedido, e nunca em benefício próprio. Ao calcular em 90% a taxa de honestidade do seu governo, implicitamente comparava-se a antecessores supostamente menos sinceros e menos comedidos.

Os adversários do ex-governador, sobretudo os atingidos por suas declarações, trataram naturalmente de interpretá-las da pior maneira. Como se nada soubessem de corrupção no Governo, declararam-se horrorizados, fingindo entender que ele havia “confessado” um desvio de 10% nas despesas oficiais.

Retoques e versões –– João Alberto agüentou firme. Explicou-se como pôde, mas não desmentiu a frase. Nem a frase, nem qualquer outra parte da matéria, seja em carta, em nota ou entrevista. Tinha acesso à coluna, tinha acesso à direção do Imparcial, tinha todo o acesso do mundo ao Estado do Maranhão. Não desmentiu porque não quis, porque a consciência lhe ditou não fazê-lo. Chegou até a repetir a frase, letra por letra, numa entrevista à Rádio Educadora, gravada e posteriormente reproduzida na campanha eleitoral de 1992. Mesmo na TV Mirante, jogando em casa, não foi além de um retoque sutil, corrigindo “90% de honestidade” para “90% de seriedade” –– grande diferença...

João Alberto está longe de ser o paradigma de corrupção ou irresponsabilidade que muitos pretendem inventar. Destacou-se, isto sim, pelas atitudes corajosas (nem sempre sensatas) e pela agilidade gerencial. A principal característica de seu governo, entretanto, foi a contradição. Por um lado, combateu a pistolagem triunfante no governo Luiz Rocha e apenas de leve desestimulada no governo Cafeteira. Por outro, deu força ao delegado Luiz Moura e a outros policiais bandoleiros. Massacrou a quadrilha do deputado Davi Alves Silva em Imperatriz e no vale do Mearim (poupando o chefe por pressão política), mas fez vistas grossas para a gangue não menos malfeitora do deputado Zé Gerardo. Desprezando a ordem jurídica, deu carta branca à Operação Tigre no combate sumário e sanguinário à bandidagem. O resultado é que policiais civis e militares de alma tenebrosa aproveitaram para saquear, chantagear, assaltar e assassinar por conta própria ou de encomenda, sem que o governador os contivesse. ..

Tiroteio a torto e a direito - A declaração dos “90% de honestidade” praticamente abafou a repercussão de outras frases não menos relevantes, na mesma entrevista. Na edição seguinte da coluna (Imparcial 6/9/1991), resenhou-se a reação dos incomodados. Leia abaixo as passagens mais polêmicas de João Alberto, com as réplicas.

Sobre Fernando Sarney –– “A Cemar gozava de uma autonomia quase absoluta e eu precisava retomar o controle”, informa, sem negar que denúncias de irregularidades na administração da companhia influíram na sua decisão (de demiti-lo). .... Fernando engoliu o sapo, mas reagiu quando o governador lhe disse que também demitiria o diretor financeiro Ayrton Abreu .... ‘Usei a regra [de que não seria mantido nenhum diretor com mais de seis anos no cargo] para não ter que entrar em detalhes”.

Reação de Fernando –– “Digo apenas que, quanto a mim, os fatos não se passaram como ele disse”.

Sobre Nan Sousa (à época deputado, hoje suplente de deputado federal) –– “O Nan, de quem eu sempre gostei, queria atuar como lobista no meu governo. E depois houve o caso de uns recursos .... que ele ajudou a desviar. Tive que ser duro com ele. Mas ainda o considero meu amigo”.

Reação de Nan: “Ele só pode estar maluco”.

Sobre Ricardo Murad (à época deputado federal) –– “O Ricardo Murad, por exemplo, pretendia que eu assinasse um aditivo contrário ao interesse público e absolutamente injustificável”. ....Quem comprou na verdade os terrenos vendidos pela Cohab no final da administração João Alberto, afirma o ex-governador, foi o deputado Ricardo Murad, por intermédio de testas-de-ferro. ‘Por isso demiti a diretoria’ ....”.

Reação de Ricardo –– “Dez por cento é modéstia do João Alberto. Pelo que sei, a taxa de corrupção no governo dele foi bem mais alta do que isso”.

Sobre Carlos Braide (então presidente da Assembléia): “João Alberto .... diz que fez .... ‘até mesmo algumas indignidades’, de que se arrepende. Entre elas uma dispensa de concorrência pública que atendia aos interesses do deputado Carlos Braide, presidente da casa.

Reação de Braide –– “Os 10% de corrupção que ele admite estão naquela mansão que ele construiu para si no bairro do Calhau. Quem fez a casa foi a construtora Nicolau, a mesma beneficiada com a dispensa de concorrência pública para construção do estádio de futebol de Bacabal.”

Sobre Juarez Medeiros (à época deputado socialista, hoje promotor –– “É um falso esquerdista .... Tudo o que o Braide quer fazer de errado combina com o Medeiros”.

Reação de Medeiros –– Não comentou a entrevista. Na campanha eleitoral seguinte, usou o mote dos “10% de desonestidade” para atingir o ex-governador.

4 comentários:

  1. Os bandidos sim. Eles tem que ter muito cuidado.

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  2. João Alberto tem moral pra dizer o que disse naquela entrevista, mesmo sabendo que poderia ganhar muitos desafetos, por isso que passei admirar João Alberto. Aliás Louremar oque você tem contra ele?

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  3. Caro leitor, acho que você não entendeu a razão do post. Não é tão dificil, mas sei que algumas pessoas são limitadas. Na verdade a idéia foi publicar algo que se torne referência para uma consulta sobre o mal entendido que se criou diante da frase de João Alberto. Não sou contra A ou B, apenas tenho uma visão crítica sobre ações, se discordo daqueles a quem muitos veneram como mitos, paciência. A vida é assim, feita de diferenças, as quais devemos respeitar.

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